quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Marcelinho diz adeus: 'Sinto orgulho desses 15 anos que defendi o Brasil'


Com 244 partidas disputadas e 3.408 pontos anotados com a camisa 4, o ala do Flamengo se despede da seleção com o sentimento do dever cumprido




Faz tempo que o amor à camisa perdeu a queda de braço para os milhões de euros e dólares que enterraram o romantismo de outrora e transformaram o esporte em um mero negócio. Na carona dos contratos milionários, vieram as transferências para mercados até então desconhecidos, o fim da identificação dos craques com seus clubes formadores e o desprezo pela seleção brasileira. Mas toda regra tem sua exceção. Se para muitos defender o país virou uma obrigação desinteressante e pouco lucrativa, para outros suar a amarelinha sempre foi motivo de orgulho e, principalmente, um dever cívico. Aos 37 anos, Marcelo Magalhães Machado é um desses bons exemplos. De protagonista no Mundial de 2002 a coadjuvante nos Jogos de Londres de 2012, Marcelinho vestiu a camisa 4 da seleção brasileira de basquete 244 vezes nos últimos 15 anos. Se faltaram títulos importantes, sobraram entrega, dedicação e uma obsessão infinita pelas vitórias. Obsessão que o fez desistir da aposentaria com a verde-amarela em 2008 para realizar o sonho de disputar as Olimpíadas. Depois de três tentativas frustradas, o ala do Flamengo finalmente conseguiu. A sonhada medalha não veio, mas levar o Brasil de volta à principal competição esportiva do planeta após 16 anos e o reconhecimento do torcedor pela excelente campanha na capital britânica foram suficientes para o jogador decidir passar o bastão à nova geração e dizer adeus com 3.408 pontos anotados e o sentimento do dever cumprido.
Marcelinho Machado, Mundial de basquete. Brasil X Croácia (Foto: Reuters)Ao longo de 15 anos, Marcelinho defendeu a seleção em 244 partidas e anotou 3.408 pontos (Foto: Reuters)
- Gostaria que minha despedida da seleção tivesse sido diferente. Com uma conquista. Mas apesar da derrota nas quartas de final, um quinto lugar em Olimpíadas não pode ser considerado um insucesso. Sinto orgulho desses 15 anos que defendi a seleção. Tive altos e baixos com relação a resultados, mas quem me conhece sabe que minha dedicação nunca foi maior ou menor dentro de quadra, sempre dei o máximo que pude – afirmou.
Foi justamente com toda essa intensidade que Marcelinho se tornou o único jogador brasileiro tricampeão dos Jogos Pan-Americanos. Se as medalhas de ouro em Winnipeg-99, Santo Domingo-2003 e Rio de Janeiro-2007, além da conquista da vaga olímpica para Londres, foram os momentos mais marcantes do ala com a camisa 4 da seleção brasileira, a derrota para a Argentina no Pré-Olímpico de Las Vegas, em 2007, doeu na alma.
Me machucaria se ouvisse que sou amarelão  de alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha maneira de ser"
Marcelinho
Mais até do que com a fama de amarelão que, por vezes, ele foi obrigado a conviver durante sua trajetória com a camisa verde-amarela. De bandeja, Marcelinho entrega que até respeita a opinião dos críticos, mas enterra qualquer tipo de preocupação com os comentários negativos, segundo ele, sem fundamentos.
- Minha preocupação maior, se é que eu tenho essa preocupação, sempre foi com as pessoas que me conhecem. Me machucaria se ouvisse isso de alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha maneira de ser. Aí sim eu me preocuparia e iria parar para pensar no assunto.
Competidor, como ele próprio se define, Marcelinho se considera um obstinado pelas vitórias e reconhece que odeia a palavra perder. Talvez por isso a ideia de entregar o jogo para a Espanha na fase de classificação dos Jogos Olímpicos, que livraria o Brasil do tão temido confronto diante dos “invencíveis” americanos nas semifinais, sequer foi cogitada pelo grupo comandado por Magnano.
- É uma decisão muito fácil de ser tomada quando você entende a grandeza de disputar as Olimpíadas. Depois de 16 anos longe da competição e pelo que representa ganhar da Espanha, acho que não tínhamos escolha e em momento algum nos arrependemos por termos vencido aquele jogo - assegurou.
Marcelinho Machado Flamengo Basquete Tá em Casa Tá na Área 2 (Foto: Reprodução SporTV)
Marcelinho vibra com o tempo livre que terá para 
curtir mais a família (Foto: Reprodução SporTV)
Ao mesmo tempo em que sentirá saudade da competição contra os melhores do mundo e do ambiente amigável construído por ele nesses últimos 15 anos, Marcelinho comemora aliviado o tempo livre que ele terá daqui para frente para curtir ao lado da esposa Renata, grávida de três meses, e do filho Gustavo, de quatro anos.
Em pouco mais de trinta minutos de entrevista para o GLOBOESPORTE.COM, o ala do Flamengo falou ainda que não pensa em ser técnico quando pendurar a munhequeira, que jamais teve medo do fracasso e que acredita na conquista de um medalha, quem sabe até a de ouro, nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro. 
Depois de perder os Pré-Olímpicos para os Jogos de Sydney, Atenas e Pequim você ainda imaginava que conseguiria realizar o sonho de disputar as Olimpíadas?
Claro, por isso que continuei ali. Eu achava que estávamos bem próximos de conquistar a vaga. No Pré-Olímpico de 1999 talvez a gente não estivesse tão bem preparado e nos outros faltaram um pouco mais de maturidade e de um trabalho mais bem feito. Os jogadores se apresentavam cada um numa hora e isso fazia toda diferença. Em 2011 nós fizemos um trabalho muito bom e conseguimos a vaga.

O que passou pela sua cabeça ao entrar no Estádio Olímpico lotado durante a cerimônia de abertura dos Jogos?
Tudo isso. Toda a minha luta desde que cheguei à seleção. Todo jogador que defende seu país tem como principal objetivo disputar as Olimpíadas. Eu sabia que essa era minha última oportunidade. Já tinha visto outras aberturas pela TV e quando entrei naquele estádio lotado fiquei bastante emocionado. Passou um filme da minha carreira inteira, principalmente na seleção e de quando comecei a jogar ainda garoto. Meu tio também disputou as Olimpíadas e sempre me falava de como era especial estar ali.

Foi o momento mais especial da minha vida. Jogar as Olimpíadas é o ápice na carreira de qualquer atleta e no meu caso não foi diferente"
Marcelinho
Quando sua ficha realmente caiu que você estava nos Jogos de Londres?
Quando eu entrei na vila. Na verdade, um pouco a cada momento. Mas no caminho para a cerimônia de abertura foi a hora que percebi que estava fazendo parte de toda aquela festa. Filmei tudo e fiz um vídeo de mais de uma hora que vai ficar guardado para sempre. Foi o momento mais especial da minha vida. Jogar as Olimpíadas é o ápice na carreira de qualquer atleta e no meu caso não foi diferente

Qual o balanço que você faz sobre o desempenho da seleção em Londres?
Muito positivo. Fizemos uma primeira fase excelente, mas tivemos pequenos erros que custaram caro. Aquele jogo contra a Rússia, decidido na última bola, por exemplo, pesou no final e mudou completamente nossa trajetória nas Olimpíadas. Se a gente tivesse vencido os russos, a partida contra a Espanha seria para definir o primeiro colocado do grupo. Enfrentamos as principais equipes do mundo de igual para igual e dos quatro semifinalistas só não jogamos contra os Estados Unidos. Mostramos que o Brasil está de volta e hoje se coloca novamente entre os grandes.

Ficar 16 anos sem participar das Olimpíadas pesou de alguma forma no jogo pelas quartas contra a Argentina?
Eu não vejo dessa forma. Ninguém joga diferente porque está nos Jogos Olímpicos, num Mundial ou no NBB. A intensidade com que encaramos um jogo é a mesma em qualquer competição. Talvez o fato de a nossa seleção ter ficado muito tempo fora fez com que a gente tenha entrado em quadra com muito mais vontade do que as seleções que estavam sempre lá. As vezes a vontade exagerada pode acabar atrapalhando alguma coisa. A Argentina é uma equipe tarimbada, muito experiente e fez um grande jogo, principalmente no primeiro tempo. Nós éramos a melhor defesa da competição e só nos primeiros vinte minutos sofremos 46 pontos, o que não aconteceu nem no amistoso contra os americanos. Foi um jogo que tivemos bastante dificuldade.

Além de jogar mal, você concorda que o time não mostrou a mesma vibração que vinha apresentando no jogo contra a Argentina?
Acho que não. Nas nossas conversas antes do jogo todo mundo estava muito empolgado. Até pelo adversário ser a Argentina, que tinha nos vencido no Mundial de 2010. A gente queria uma oportunidade de dar o troco e mostrar que aquela era a nossa hora. Apatia não teve, o que aconteceu é que a gente não estava encontrando uma saída dentro do jogo. Talvez por isso a gente não tenha conseguido colocar para fora toda a vontade que queríamos e pode ter ficado essa impressão.

Você já falou sobre o jogo contra a Rússia. Mas qual realmente foi o peso daquela derrota no estouro do cronômetro?
Falando depois do ocorrido é mais fácil. Sabemos que se tivéssemos ganho aquele jogo, teríamos terminado em primeiro ou terceiro e fugido de futuros cruzamentos contra Argentina e Estados Unidos. Mas isso é o se. Pela maneira que aconteceu, foi duro. Vencer a Rússia numa competição como as Olimpíadas seria histórico. Acho até que inédito. No dia foi bem difícil. Dormimos pouco naquela noite.

Victor Sada e Marcelinho Machado Basquete Brasil x Espanha (Foto: EFE)
Marcelinho afirma que o Brasil jamais pensou em 
entregar o jogo para a Espanha (Foto: EFE)
O Magnano disse em Londres que o time dele jamais iria entrar em quadra para perder. Em algum momento vocês cogitaram a possibilidade de entregar o jogo para a Espanha?
Não. É lógico que aconteceram várias brincadeiras em relação a isso, mas sempre pensamos em ganhar o jogo. Depois de 16 anos longe dos Jogos Olímpicos e pelo que representa ganhar da Espanha, medalha de prata nas duas últimas Olimpíadas, eu acho que não tínhamos escolha.

E os espanhóis, entregaram o jogo?
É muito difícil perceber isso dentro de quadra. Eu prefiro acreditar que foi mérito nosso vencer o jogo. Prefiro não acreditar que uma seleção com o gabarito que tem a Espanha, finalista de duas Olimpíadas, tivesse a mediocridade de fazer isso. Mas se eles fizeram, só eles podem responder. É uma decisão muito fácil de ser tomada quando você entende a grandeza de disputar as Olimpíadas, e em momento algum nós nos arrependemos por termos vencido a partida.

Em algum momento o grupo que conquistou a vaga no Pré-Olímpico se mostrou contrário as convocações de Nenê, Leandrinho e Anderson Varejão?
De maneira nenhuma. Esse questionamento sempre foi feito apenas pela imprensa. Da parte do grupo, nunca existiu qualquer tipo de problema com a convocação deles. São três grandes jogadores que acrescentaram e nos ajudaram bastante nas Olimpíadas. O ambiente na seleção sempre foi o melhor possível.

O Brasil tem um grande time e voltou a ser respeitado no cenário mundial. O que falta para voltarmos a ser protagonista em uma competição?
Protagonista a gente já é. Em todos os comentários que ouvimos antes e durante as Olimpíadas sempre se falava no Brasil. Isso mostra que nosso trabalho foi muito bem feito e o Magnano é o maior responsável por isso. Desde que ele chegou nossa mentalidade mudou. A seleção brasileira hoje é muito mais competitiva e falta pouco para a gente ganhar um Mundial ou as Olimpíadas. Não estamos muito longe disso.

Você acha que o Rubén Magnano mudou o basquete brasileiro?
Acho. Ele mudou nossa maneira de jogar e a forma com que encaramos o jogo, valorizando muito mais a posse de bola e nossa defesa, que foi nossa maior arma durante as Olimpíadas. Espero que isso sirva de exemplo para outros treinadores.

Se alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha maneira de ser me chamar de amarelão, aí sim eu vou me preocupar e parar para pensar. "
Marcelinho
Você é um dos jogadores que mais vezes defendeu o Brasil, um dos únicos que jamais recusou uma convocação e mesmo assim algumas pessoas insistem em achar que você amarela com a camisa da seleção. Isso te machuca muito?
Não, me machucaria se eu ouvisse isso de alguém que me conhece. Depois da conquista que tivemos no Pré-Olímpico, quando tive uma atuaçãodestacada no jogo decisivo contra a República Dominicana, até ouvi uma coisa ou outra sobre meu desempenho por parte de jornalistas e blogueiros, já que hoje em dia todo mundo se sente no direito de fazer comentários pela internet até mesmo sem se identificar. Mas minha preocupação maior, se é que eu tenho essa preocupação, sempre foi com as pessoas que me conhecem. Se alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha maneira de ser me chamar de amarelão algum dia, aí sim eu vou me preocupar e parar para pensar. Mas quando é uma coisa sem o menor fundamento ou simplesmente uma opinião, eu respeito porque é assim que funciona. Quando você representa seu país durante tanto tempo, vão existir pessoas a seu favor e outras contra. Coincidentemente, como fui o protagonista da seleção no longo período em que Brasil ficou sem disputar as Olimpíadas, é natural que tenha mais gente que fale mal de mim do que bem. Eu encaro isso com naturalidade, até porque as pessoas que me criticaram lá atrás foram as mesmas que me elogiaram quando conseguimos a classificação para Londres.

Você já havia anunciado sua despedida da seleção após o Pré-Olímpico de 2008. O que o fez voltar atrás?
Acabei repensando essa decisão depois das minhas boas atuações aqui no Brasil. Sempre me baseio muito no meu rendimento e como eu vinha jogando bem no Flamengo e pela seleção, achei que não era a hora de sair. A chegada do Magnano também serviu como um incentivo a mais para voltar atrás e continuar. Acho que valeu a pena, pois tive boas atuações no Mundial e no Pré-Olímpico que nos classificou para Londres.

Ao aceitar uma nova convocação você temeu que a seleção fracassasse no Pré-Olímpico e ficasse fora das Olimpíadas mais uma vez?
Nunca tive medo do fracasso e jamais pensei que não iria conseguir das outras vezes. Sempre que acaba um campeonato você faz uma autocrítica para tentar entender o que aconteceu e o que poderia ter sido feito diferente. Muitas vezes eu encontrei respostas para essas perguntas, mas desta vez eu acho que não encontraria. Fizemos tudo que tinha que ser feito da maneira correta. Todo mundo se apresentou no dia marcado sem qualquer tipo de vaidade e tínhamos uma direção muito qualificada e sensata. Todos estavam na mesma batida e comprometidos desde o Pré-Olímpico. Fico feliz por ter voltado atrás naquela decisão de 2008 e ter feito parte deste grupo.

Luis Scola, Brasil x Argentina, Basquete (Foto: Agência Reuters)Scola comemora a vitória sobre o Brasil no último jogo de Marcelinho pela seleção (Foto: Agência Reuters)
Quando o jogo contra a Argentina acabou você parou para pensar que aquele seria seu último jogo pela seleção?
Sim, e gostaria que tivesse sido diferente. Com uma conquista. Mas apesar da derrota nas quartas de final, se fizermos uma análise com a cabeça fria, um quinto lugar em Olimpíadas não pode ser considerado um insucesso. Principalmente pela maneira com que a gente encarou as melhores seleções do mundo e pelo nível de atuações que apresentamos em Londres. Isso tem que ser levado em conta. Me orgulho desses 15 anos que defendi a seleção. Tive altos e baixos com relação a resultados, mas quem me conhece sabe que minha dedicação nunca foi maior ou menor dentro de quadra, sempre dei o máximo que pude.

É difícil tomar a decisão de não jogar mais pela seleção?
É, pois acho que é meu dever defender meu país. Mas sempre vou analisar o lado positivo. Sempre fui assim com relação a tudo. Uma das coisas que me doía mais quando estava defendendo a seleção era ficar longe da minha família. Principalmente do meu filho. A minha esposa entende, curte demais e sempre pode me encontrar nas competições, como aconteceu no Pré-Olímpico do ano passado. Hoje o Gustavo não entende isso, mas quando ele crescer a gente vai ter essa conversa e ele vai se orgulhar de saber que o pai dele lutou tanto para disputar as Olimpíadas e conseguiu. Por isso eu prefiro pensar só no tempo que vou ter para curtir eles durante um mês inteiro sem pensar em mais nada, coisa que eu não consegui fazer nos últimos 15 anos.

O que você mais vai sentir falta?
Da competição, de jogar com os melhores do mundo e provar a todo instante que merecia estar ali. Além do ambiente e das amizades que fiz nesses quinze anos. A gente vive intensamente aqueles dois meses e meio que estamos juntos e foi uma relação na qual eu consegui fazer grandes amizades. Até brinco com eles que eu quero levar o Gustavo para acompanhar alguns treinos e espero que eles me recebam com carinho (risos).

Qual o momento mais marcante e o mais frustrante com a camisa da seleção?
O mais marcante foi o jogo contra a República Dominicana no Pré-Olímpico de 2011 quando conseguimos a vaga para Londres. Eu ainda não tinha certeza de que disputaria as Olimpíadas, já que o Magnano poderia optar por outro jogador, mas ali eu senti um orgulho muito grande por ter feito parte do grupo que conseguiu classificar o Brasil para as Olimpíadas depois de 16 anos. Tudo o que busquei durante a minha carreira, eu conquistei ali. O mais frustrante foi a derrota para a Argentina no Pré-Olímpico de 2007, em Las Vegas, que nos deixou fora dos Jogos de Pequim. Aquela derrota doeu bastante porque nós estávamos preparados para disputar as Olimpíadas.

Basquete Mundial - Marcelinho, Anderson Varejão e Marcelinho Huertas no desembarque da seleção brasileira (Foto: Danielle Rocha / GLOBOESPORTE.COM)
Marcelinho posa ao lado de Anderson Varejão e
Huertas (Foto: Danielle Rocha/GE.COM)
De todas as pessoas que você trabalhou na seleção, tem alguma mais importante?
É difícil dizer, têm algumas. O Marcelinho Huertas é um cara que eu me dou super bem. Eu convivi pouco com o Valtinho na seleção, mas é um grande parceiro que fiz quando jogamos no Uberlândia e um não saía da casa do outro. Tem o Thiago (Spliter), o Anderson, o Guilherme, o Alex, muita gente...

Você teve problema com algum companheiro ou treinador ao longo desses anos?
Não, e isso é uma das coisas que mais me orgulho nesses 15 anos. É claro que existiram algumas situações difíceis ao longo desse período, mas um grupo também se constrói em momentos assim. Não se forma uma seleção só com tapinha nas costas e vamos lá.

Ficou faltando alguma coisa?
Não, aconteceu tudo que tinha que acontecer.

Você acha que conseguiria chegar bem nos Jogos do Rio 2016?
Não no nível que se joga basquete hoje em dia no mundo.

E no Mundial de 2014?
Acho muito difícil. Restam dois anos, é muita coisa, ainda mais na minha idade. Eu chegaria lá com 39 anos.

Você acredita que o Brasil vai chegar ao Rio em 2016 brigando pela medalha de ouro?
Acho. Os Estados Unidos sempre serão os favoritos e em quatro anos esse cenário não vai mudar. Mas a distância está cada vez menor e o número de seleções competitivas que estão chegando para brigar com eles está aumentando. Acho que Brasil e Espanha lideram esse grupo. A Grécia, por exemplo, é a quarta colocada no ranking da FIBA e ficou fora dos Jogos de Londres. A Lituânia perdeu para a Nigéria, mas quase venceu os americanos. Já a Argentina eu não vejo com uma geração tão forte assim para 2016.

Sou um competidor. Eu não quero perder de jeito nenhum quando estou dentro da quadra"
Marcelinho
Depois de realizar o sonho de disputar as Olimpíadas, você já pensou em aposentadoria?
Já, até porque todo atleta tem que se preparar para esse momento. Eu tenho mais três anos de contrato com o Flamengo e minha ideia é encerrar a carreira aqui. Mas eu me baseio muito no meu rendimento e minha alegria de jogar vem daí. Só quero poder continuar jogando bem e ajudando meu time a vencer. Quando eu não conseguir mais fazer isso é hora de parar.

E você já pensou no que vai fazer quando isso acontecer?
Tem tanta coisa para fazer, mas acho que vai ser alguma coisa ligada ao basquete. Técnico é o que eu menos penso. Sinceramente não me vejo como treinador, mas quem sabe. Acho que tenho mais perfil para ser um olheiro fora das quadras, um observador de novos talentos.

Como você se definiria dentro de quadra?
Sou um competidor. Eu não quero perder de jeito nenhum quando estou dentro da quadra. Quero ganhar sempre e tenho a consciência do que é preciso fazer para chegar lá dentro em condições de vencer. Sempre me dediquei ao máximo nos treinamentos e nunca deixo de treinar por causa de dor. Só quando não tem jeito. Felizmente eu tive poucas lesões na carreira.

Você tentou entrar na NBA duas vezes. Ficou alguma frustração por não ter conseguido?
Não, eu teria ficado frustrado se não tivesse tentado. São muitas coisas que te levam a jogar lá. Se não deu certo nas duas vezes que tentei, uma no Portland e outra no Cleveland, é porque não era para ser. Tenho muito orgulho por tudo que fiz na minha carreira e espero conquistar mais coisas.

Quem será o sucessor do Marcelinho?
De características de jogo, o Matheus Dalla, do Limeira. É um jogador que tem um arremesso rápido e muita personalidade. Mas acho que hoje quem estaria mais preparado para me substituir na seleção é o Benite, que já tem mais experiência.

Marcelinho Machado Tá na área 06 (Foto: Luna Vale / SporTV.com)Ao lado das três medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos, a prata conquistada no Pré-Olímpico de Mar Del Plata, em 2011, foi a maior conquista de Marcelinho pela seleção (Foto: Luna Vale/SporTV.com)